Vale a pena empreender em 2016?
Este ano começou com o mercado pessimista. Mas, se o seu planejamento era começar seu negócio próprio em 2016, como saber se é seguro? Selecionamos um artigo para esclarecer um pouco as suas dúvidas!
Empreender sempre vale a pena desde que assimile o verdadeiro significado do que é empreender. Peter Drucker, talvez o mais respeitado analista do mundo dos negócios de todos os tempos foi enfático em seu livro Empreendedorismo e Inovação: Um casal que abre um restaurante não está empreendendo. O que eles estão fazendo já é feito há muitos anos. McDonald’s, por outro lado (goste ou não da empresa), é um exemplo de empreendedorismo. Ao aplicar técnicas de padronização, inovou em processos e qualidade, criando um novo mercado. Empreender, portanto, não é apenas abrir um novo negócio. Nunca foi. Empreendedor é um visionário que tem iniciativa, que sabe identificar oportunidades e estabelecer soluções inovadoras. Ser um empreendedor não se limita às pessoas que começam os seus próprios negócios. O comportamento empreendedor existe em todos os setores, em todos os níveis de carreira, em todos os momentos da vida.
Dado que você tenha iniciativa neste ano, o próximo passo é aprender a identificar oportunidades e estabelecer soluções inovadoras. Neste momento, sempre aparece um guru de rede social que lembra que crise e oportunidade, em chinês, é escrito da mesma forma. Mas se não for chinês, isto não tem tanto significado assim. Mas lembre-se de que todas, absolutamente todas, as crises (sejam grandes ou pequenas) trazem dores para as pessoas. Quando você encontra uma melhor solução (por isso mais inovadora), muito provavelmente está diante de uma oportunidade. Vale para agora e para qualquer outro momento. Assim, se for empreender em 2016, identifique uma dor que seja real, emergencial e não (bem) resolvida e vislumbre uma solução (muito) melhor, inovadora e vantajosa.
Mas empreender um negócio próprio nunca foi fácil. Estatisticamente, mais de um terço das empresas morre em menos de dois anos e mais da metade, em cinco anos. Na crise econômica aguda em que vivemos agora, a taxa de mortalidade de novos negócios (e negócios existentes) deve aumentar. Considerando apenas as condições (horríveis) de mercado, tem sucesso as mais inovadoras.
Como são a minoria, são as exceções. Por isso, são sempre as exceções que inspiram. Daí, enquanto o mercado automobilístico desaba, a solução é buscar inspiração nas poucas que tiveram sucesso em 2015: Honda, Toyota e Hyundai.
Mas a receita delas é a mesma: inovação, qualidade e produção enxuta. Vale para grandes empresas e para todas as novas que surgirão neste ano em qualquer segmento.
E foi a mesma receita usada por outras empresas que surgiram no meio de grandes crises. Em 1973, a Crise do Petróleo estava no seu auge. Até quem tinha muito dinheiro, ficava preocupado em encher o tanque. Eis que aparece o jovem empreendedor Salim Mattar com a ideia de criar uma locadora de automóveis chamada Localiza. Enquanto que os concorrentes viam mais uma locadora, Mattar via um negócio financeiro que permitia que as empresas e pessoas reduzissem seus custos. Para oferecer um serviço de qualidade, Mattar dormia na empresa, oferecendo um serviço 24 horas, 7 dias por semana.
No final da década de 1980, o Brasil estava destruído pela inflação e mesmo assim, em 1988, um jovem criou um negócio chamado CacauShow. Enquanto todos viam mais alguém fazendo um “bico” fabricando chocolates, Alexandre Tadeu da Costa descobriu que se inovasse, seu produto poderia ser oferecido como presente. E, apesar da crise, as pessoas continuavam dando presente, mesmo que fosse uma “lembrancinha”. Depois do sucesso da CacauShow, muitos tentaram “empreender” copiando o negócio, mas quase ninguém notou que a empresa não estava no negócio de “cacau”, mas no de “show” (de presentes inovadores e com bom benefício/custo).
No geral, será muito mais difícil criar e estabelecer um novo negócio em 2016. Pessoas e empresas devem reduzir (ainda mais) suas despesas, cortar supérfluos (e até não supérfluos), mas continuarão tendo “dores” que precisarão de novas soluções. Da mesma forma que poucos notaram que a Localiza “localizava” oportunidades de economia para as empresas e que o negócio da CacauShow era o show e não o cacau, serão poucos os empreendedores que realmente saberão que estão no negócio de resolver as reais dores de clientes e não simplesmente vender produtos e serviços.
Para estes poucos, empreender sempre vale a pena quando a capacidade visionária não é pequena.
Marcelo Nakagawa é Professor de empreendedorismo e inovação do Insper e Diretor de Empreendedorismo da FIAP
Fonte: Estadão